terça-feira, 31 de maio de 2016

Vantagens da burca

Terminei de ler, este fim de semana, "O Jardim Perfumado" traduzido e publicado por Sir Richard Burton em 1886 (estou a escrever uns posts sobre isso, mas também tenho de ler a versão de Jim Colville -- encomendei na Amazon ontem), que é um texto árabe com instruções para os maridos. No capítulo 11 há uma história que me fez pensar que a burca pode dar muito jeito. Aqui está a história da Bahia (Ah, a Bahia a perguntar se o amigo do amante é inteligente é muito bom!):

Momento bipolar

"Mário Centeno garante que o governo está a trabalhar “com grande afinco” na consolidação das contas públicas e pede “paciência” e “tempo” para que “as reformas estruturais feitas nos últimos anos se materializem”, o que ajudará a acelerar o crescimento e a redução da dívida."

Fonte: Observador

Expliquem-me lá o que pensar deste governo. António Costa teve um fanico quando perdeu as eleições e, para formar governo, pseudo-coligou-se com dois partidos que são absolutamente contra as reformas que foram implementadas pelo governo PSD-CDS. Passámos os últimos meses a reverter medidas do governo anterior e esse parece continuar a ser o caminho futuro para que a pseudo-coligação sobreviva. Agora, Mário Centeno anuncia que as reformas anteriores irão produzir efeitos?!? Surgem na minha cabeça duas conclusões:

  • Este governo não tem legitimidade, pois toda a sua plataforma assenta em virar a página das políticas seguidas pelo governo anterior, que dizem ter sido erradas;
  • Se a paciência é comprada com as reformas do governo PSD/CDS, então o governo actual admite que a sua política actual não surte efeito nenhum.

O futuro próximo de Portugal vai ser assim: vão esgotar a boa vontade da União Europeia e do BCE e depois, quando as taxas de juro mundiais começarem a aumentar -- e as da dívida portuguesa já estão --, vão olhar para esta altura e concluir que desperdiçaram mais uma oportunidade. Quantas mais oportunidades pode o país dar-se ao luxo de desperdiçar?

A homogeneidade já não é o que era

The Motley Fool tem um artigo fantástico acerca da crescente heterogeneidade da economia e sociedade americanas, o que ajuda a compreender a tendência recente para o extremismo e a desertificação do centro. A conclusão é brilhante:
Investors and economists like to argue over who's right. Keynesians vs. Austrians, bulls vs. bears. The more I dig into these debates, the more I see that people aren't actually debating the same topic; they're just trying to get the other side to see their own version of reality, and become frustrated and insulted when the other side can't or doesn't.

We all do this to some extent. It drives home that a vital skill of anyone trying to make sense of the economy is realizing that everyone has a point of view, and none of them are complete.

Fonte: The Motley Fool

Conduzir em Houston

No outro dia, fiz um vídeo de parte da minha comuta diária para o trabalho. É uma porção da Bissonet St. que está mesmo ao lado de West University e WestU é o quarto código postal mais caro dos EUA. Prestem atenção ao pavimento; a faixa da direita é pior do que a da esquerda. O meu carro, com 17 anos, já precisa de ir à oficina outra vez. Se eu não tivesse cães, desistia de ter carro e andava só de autocarro e Uber. Aliás, se eu vivesse em Portugal, não teria carro -- imaginem a quantidade de livros que eu poderia ler a andar de autocarro!

História gótica

72. E se pudessem dar um passo atrás e olhar para as suas próprias deambulações de sala em sala, de corredor em corredor, Groesken, Valodu e Ada veriam que o labirinto tinha a forma de um cérebro dentro de uma cabeça, ou de

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Se eu fosse o José Cid...

... estaria, no mínimo, preocupado.

Fonte: INE, Estatísticas da Justiça


Poder de mercado

Esta semana deu-me para cozinhar bastante e, como tal, decidi oferecer algumas refeições à minha vizinha J. Numa das minhas visitas de entrega, encontrei a Groupie do Lobo Antunes (GLA), que tinha acabado de jantar com a J. Começámos a falar de arte e a GLA foi professora de arte no Museu de Belas Artes, há várias décadas. Até recentemente, a escola de arte chamava-se Glassell, em honra do milionário que tinha feito a doação para a sua construção, mas o complexo do Museu de Belas Artes vai ser modificado e o edifício Glassell foi demolido para dar lugar a outro edifício que fará parte do novo campus.

O projecto de renovação do campus terá um custo de $450 milhões e o nome de Fayez Sarofim, que doou $70 milhões. O Sr. Sarofim é apenas um dos homens mais ricos de Houston e dos EUA e, como devem calcular, é um grande apreciador de arte. Também é um grande apreciador de charutos, que fuma copiosamente ao pé das grandes obras de arte que decoram o edifício onde trabalha -- até os cubículos têm obras de arte, não vão os assistentes ter um mau dia por falta de inspiração -- e a sua casa, mas quando se é o dono de Picassos, Motherwells, Rauschenbergs, de Koonings, etc. pode-se fazer o que muito bem se entender. Uma obra de arte num museu de entrada livre é um bem público; mas na casa de alguém é um bem privado.

O Sr. Sarofim faz parte do top dos 200 maiores colecionadores de arte do mundo e, obviamente, em Houston, o seu nome é conhecido por toda a gente que trabalha nos museus -- até os caixas do parque de estacionamento o "conhecem". A GLA tem a sorte de ter um sobrenome parecido com o do bilionário e relatava ela que, numa das sua idas ao museu, houve qualquer confusão com o seu cartão de membro e o preço de estacionamento não incluía o desconto. Ao falar com o caixa, este perguntou-lhe o nome e, quando recebeu a resposta, o rapaz entrou em pânico, pediu imensa desculpa, e abriu-lhe o portão sem que ela tivesse de pagar por estacionar. Pensava ele que ela pertencia à família de Sarofim, o que lhe concederia poder de mercado. Um Sarofim no mercado não é o mesmo que um Smith, por exemplo. O Smith teria de esperar que a confusão se clarificasse para que o desconto lhe fosse concedido.

Quando se tem poder de mercado, o mercado verga em nosso favor. Na questão do "custo" do ensino privado e do ensino público, as questões de poder de mercado são essenciais. É por os sindicatos de professores terem poder de mercado que os professores do público ganham, em média, mais do que os do privado. Mas qual é o poder de mercado do estado quando negoceia um contrato de associação? Será que o preço por turma é ditado pelo colégio privado, o que acontece quando uma família anónima compra a educação do seu filho no colégio, ou é ultimamente determinado pelo estado? Se é determinado pelo estado, então não é representativo do verdadeiro custo para o colégio, pois o preço inclui a pressão do poder de mercado do estado.

Um modelo económico esgotado

No Blogue da Fundação Francisco Manuel dos Santos os autores de Crise e Castigo procuram responder a uma questão colocada por alguns leitores (incluindo um comentador habitual da Destreza, Isidro Dias):
afinal o modelo seguido nos anos 80 e 90 foi ou não um bom modelo?

Pequenas diferenças

Este fim-de-semana fui três vezes ao supermercado (a três supermercados diferentes: Continente, LIDL e El Corte Inglés) e das três vezes encontrei os pedidos do Banco Alimentar (tendo contribuído apenas da primeira vez).

Houve uma coisa que me chamou a atenção no primeiro supermercado e que pude confirmar nos outros dois. Não havia homens. Só mulheres e crianças. E, entre as crianças, eram todas meninas. Só houve um caso em que fiquei na dúvida se seria rapaz ou rapariga.

Ou seja, e pelo que pude ver, não só as mulheres participam mais nestas actividades, como ainda levam as filhas. Já os filhos estão dispensados.

Curiosidades de Barcelona


Para desanuviar o ambiente decidi dar a conhecer algumas curiosidades que trouxe da minha recente visita a Barcelona e que, ao arquivar a documentação trazida, achei interessante partilhar neste blog.

Português Swag



O Presidente da República e o ministro dos Negócios Estrangeiros estão em Berlim, e ontem tiveram um encontro com alguns elementos da comunidade portuguesa. Também me convidaram (pois: por estas e por outras é que este país...), de modo que me disfarcei de senhora, e fui.
Marcelo Rebelo de Sousa discursou sem papel e sem se perder em banalidades de ocasião. Mencionou todos os grupos activos da comunidade portuguesa em Berlim - de cor, sem gaguejar, sem esquecer nenhum (bem diferente de um maestro que vi há dias na Filarmonia a fazer um pequeno discurso e a hesitar na parte em que queria dizer o nome da cidade). Depois falou com cada um dos presentes, realmente interessado no que lhe diziam. Contei-lhe sobre as novas perspectivas para o Cinemagosto, respondeu com algumas sugestões.
Por sua vez, o ministro ia ficando sem jantar por estar inteiramente imerso na conversa com os investigadores da associação ASPPA.
O embaixador João Mira Gomes e a embaixatriz/embaixadora Graça Mira Gomes conseguiram criar um ambiente tão informal quanto elegante, sempre bem-dispostos e atentos a tudo - até a chamar as cozinheiras para receberem o nosso aplauso de gratidão e falarem ao Presidente. Uma delicadeza.

Para mim, foi uma noite muito proveitosa: além de matar saudades de um bacalhau como deve ser, pude falar com várias pessoas fundamentais para a nova associação cultural que estamos a criar.

Mas o melhor de tudo, de longe o melhor de tudo, foi ter passado umas horas a assistir a um Portugal renovado e cheio de swag. Meu rico país!

["swag" no sentido alemão da palavra: uma aura invejável de descontracção e confiança, própria de quem está de bem consigo e com o mundo]

[como se não bastasse termos o problema de as palavras portuguesas mudarem de significado quando chegam ao lado de lá do Atlântico, agora temos palavras inglesas com sentidos diferentes conforme o país onde são ditas - tradutor sofre!]



(roubei as fotos no facebook da Helena Ferro de Gouveia)



Moo...

Já tenho as espigas de milho, que vieram no meu saco de hortaliça da quinta, preparadas para o jantar -- só falta a manteiga, o sal e a pimenta. Que tal acham as minhas pegas? As redondas são de louça, as vaquinhas são de plástico. Não gosto muito de plástico, mas como resistir a estas vaquinhas? Que se lixe o ambiente! Moo...

P.S. O prato é português, duh!


Um conjunto de contradições.

José Rodrigues dos Santos voltou à carga: “o fascismo é um movimento de origem marxista”, insiste ele no Público. A origem do fascismo estaria nas ideias do “marxista” francês Georges Sorel (1847-1922) que publicou, em 1908, um livro muito influente intitulado Refléxions sur la violence. Como a revolução do proletariado profetizada por Marx e Engels nunca mais via a luz do dia, a impaciência começou a instalar-se no seio dos marxistas logo no final do século XIX (vejam bem a paciência dos comunistas portugueses, que ainda não desistiram da ideia). Sorel achou que era melhor não esperar sentado e defendeu que se passasse à acção. Uma elite ilustrada guiaria o proletariado e, juntos, antecipariam o fim do capitalismo à mocada. Lenine leu o livro e daí lhe veio a ideia de uma “vanguarda”. Mussolini também o leu e daí o seu fascínio pela violência das massas. E, se bem entendi, Georges Sorel é a origem comum dos dois movimentos: bolchevismo e fascismo. Há, sem dúvida, muitas coincidências e sobreposições nestas duas histórias de violência, que abalaram a Europa e o mundo. E Rodrigues dos Santos tem razão: o socialismo não foi parar por acaso ao "nacional-socialismo" alemão: os nazis estavam, por exemplo, a lançar um Estado providência.

domingo, 29 de maio de 2016

porque hoje é domingo: história mirabolante de uma miúda que quer inventar um foguetão

Do Humans of New York:


"I'm going to build a rocket ship out of a trash can and some wood and a bubble that never pops, and then I'm going to test it out to see if it goes somewhere, and if it goes somewhere, I'll go to outer space and see things that people never even saw before."

Resposta da NASA, no facebook:

NASA - National Aeronautics and Space Administration You're just about the right age to be on one of the first human missions on our Journey to Mars! We're building NASA's Space Launch System rocket and NASA’s Orion Spacecraft right now, but we're going to need innovators like you to develop new technologies people haven't even thought of yet to get there. Keep experimenting, keep testing, keep dreaming, and keep looking up!


sábado, 28 de maio de 2016

Crise e Castigo na FEUC

Dia 31 de Maio, às 14h, na Sala Keynes, com Teodora Cardoso e João Sousa Andrade.


Um moderado isolado

Francisco Assis deu nos últimos dias uma série de entrevistas. Assis não está espantado com a (curta) duração do governo. De qualquer maneira, um governo não deve ser julgado pela sua duração, mas pelo que faz. O problema é que as condições que podem fazer durar este governo são as mesmas que o impedem de fazer alguma coisa de relevante em áreas vitais como o estado social, o mercado laboral, a atracção de investimento, a reforma do sistema político, a política externa. É um governo de gestão, manietado pela esquerda radical. Assis lamenta o sectarismo que se apoderou do PS e critica a diabolização dos partidos da direita, reflectida, por exemplo, na moção que António Costa apresenta ao Congresso. Tudo isto é dito por um homem que até há bem pouco tempo era visto como um moderado dentro do PS. Com os ventos de loucura que por aí sopram, suspeito que Assis corre o risco de ser considerado da “direita radical” e que o acusem de preconceitos ideológicos, ódios pessoais e, quem sabe, de ser um traidor, a soldo dos grandes interesses. E Roma não paga a traidores, como há uns anos lembrou António Guterres. 

Viva, mas...

Houston Downtown, ontem à noite. Foto de Jon J. Shapley, Houston Chronicle
A tempestade da noite passada foi bastante forte, com riachos a transbordar e estradas submersas devido às chuvas fortes. Na zona onde vivo, não houve inundações, mas fui extremamente cuidadosa no meu regresso a casa porque chovia bastante. Tive perfeita noção de que bastava alguém ser descuidado e algo grave poderia acontecer. Depois de estar em casa, alguns dos relâmpagos atingiram a minha vizinhança.

O meu regresso a casa
Já na Quinta-feira tinha havido uma forte tempestade que produziu um tornado, deixou algumas estradas submersas, e criou um "sinkhole" numa estrada. Pelo menos duas pessoas morreram e uma está desaparecida. Darren Mitchell, de 21 anos, foi quem desapareceu. Uma das últimas coisas que fez foi tirar uma foto de dentro da sua carrinha rodeada de água a subir de nível e postou-a no Facebook. Disse "And all I wanted to do was go home." A carrinha já foi encontrada, mas sem ninguém lá dentro. As buscas estão suspensas neste momento por causa das más condições.

Não dava, mas dá...

Uma das razões invocadas para justificar Portugal não ter grandes marcas de renome internacional é a língua portuguesa ser difícil. Os americanos, que têm uma língua fácil, gostam muito de inventar palavras estranhas à sua língua e não se importam de pedir emprestadas palavras de outras línguas: Tumblr, Flickr, Twitter, YNAB*, Comcast, Uber, etc. Era mesmo no Tumblr que eu estava quando me apareceu uma foto da colecção Marques'Almeida SS13. "Whaaaaaaat?!?", pensei eu, "Isto é mais português do que o Camões. Será mesmo?"

E porque hoje é sábado: histórias mirabolantes de uma miúda portuguesa que quer ser política na Alemanha

Porque hoje é sábado, e porque amanhã a vou conhecer, deixo aqui algumas histórias da Matilde, contadas pela mãe no blogue Domadora de Camaleões. Adiantando já a moral da história: adoro viver na Alemanha!

1. A recém... política
(...) Pediu-me para ver sozinha as fotografias. “Tens a certeza?”. “Tenho”. Corpos escavados pela fome, pela fadiga, pelo pesadelo nazi. Empilhados como molhos de lenha. Uma tácita convenção impõe que eu não quebre o silêncio antes dela. “Anne Frank morreu assim?”. “Sim querida”. “Isto não mais vai voltar a acontecer, pois não Mami?”. “Não. Nie wieder”. “Temos de estar atentos”, diz-me baixinho. Disfarço mal a comoção.
Continuamos o percurso pela Haus der Geschichte, o museu de História de Bona e um dos mais importantes legados do chanceler Helmut Kohl. Paramos no Bundestag. O mobiliário original do primeiro parlamento alemão do pós-guerra está aqui. Sobe ao púlpito e pede-me para tirar uma fotografia. Ao almoço, depois de visitarmos a queda do Muro e a reunificação, comeu sem pressas, mastigando com lentidão. Cogita. “Tu sabes que eu não vou ter filhos, não sabes?”. “Sim, Matilde?”. “ E também já não vou estudar baleias para o Alasca com a tia”. “E?”. “ Decidi uma coisa hoje”. AIAMINHAVIDA.”Sim?”. “Como não quero ter filhos tenho todas as condições para ser política, como a Merkel”. “Aaah?”. “ Ela não é a mulher mais poderosa do mundo? E não pode decidir sobre guerra e paz? Pois eu quero ser política para que nunca mais haja guerra. E vou ser dos Verdes”. Mãe em hiperventilação.
Pensar que eu aos nove anos sonhava ser a Wonder Woman.


2. As crianças são o melhor do mundo e tal 
Há quem diga que a ironia é o melhor dos condimentos e é óptimo ter sentido de humor. Aprecio uma e não me escasseia outro. Porém digam, digam-me o que eu fiz de errado quando a mini-política cá de casa afirma “ser favorável à introdução de um salário mínimo” e põe no topo da sua lista de presentes de Natal ( sim lista de presentes de Natal em Setembro ou não fosse a pestinha alemã) um encontro com …o Peer Steinbrück.
Façam coro comigo: ohmmmmmmmm.




História gótica



71. Protegidos pelo sol do meio-dia, Ada, Groesken e Valodu olham para a entrada imensa atrás da qual esperam encontrar, não sabem o que esperam encontrar, ainda que procurem isso, essa coisa, há muito tempo.

Imagens de Portugal

(foto)

Estando nos antípodas de um filme publicitário sobre o Porto, a curta "Canção de Amor e Saúde" do João Nicolau agarra em duas peças de Serralves com um olhar tão surpreendente que me deixou capaz de apanhar o primeiro avião para as ir viver com calma.

Temos um país extraordinário. E temos pessoas que fazem cinema extraordinário. Temos tudo para poder dar do país perspectivas originais, poéticas, inesperadas, compondo uma imagem que suscite interesse e curiosidade. Temos a matéria, a arte, a inteligência, a flexibilidade e a criatividade necessárias para inventar uma nova linguagem na publicidade turística.

Também por isso me incomodam os filmes publicitários para atrair turistas que põem a tónica no "venha a Portugal, coma uma local", nas imagens com a beleza banalizada dos catálogos turísticos, e na hospitalidade confundida com subserviência. Portugal é muito mais, pode muito mais e merece muito mais que isto.


Francamente, ó Franco!

Eu sabia! O James Franco é um desavergonhado...
in Condé Nast Traveler, Junho/Julho 2016

sexta-feira, 27 de maio de 2016

"Vem a Portugal, come uma local"



"Vem a Portugal, come uma local" deve ter sido a ideia de base que serviu à equipa que fez este filme. Seguida de "a nossa culinária é um bocado esquisita, mas as nossas mulheres são mais boas que as vossas" e "estamos ansiosos por ver as nossas ruas invadidas por gente bárbara, usem-nas à vontade, porque nós levamos a hospitalidade tão a sério que nem nos importamos que alguns dos nossos moradores vão parar ao hospital".

Sobre os conteúdos, estamos conversados. Agora gostava de saber quem é que fez esta pérola da subserviência, quem pagou, e quanto pagou.


Pode ser que morra...

Há uma tempestade a norte de Houston e isto vai ficar interessante hoje à noite. Estou ainda no trabalho, mas vários edifícios estão sem electricidade. No entanto, fui saber e os elevadores estão a funcionar: elevadores e luzes de emergência são a única coisa que funciona. A chefinha já me enviou um SMS a dizer para eu ir para casa. Ah, este fim-de-semana é prolongado porque é Memorial Day na Segunda-feira. 

Já sei que deve haver algumas pessoas em Portugal que gostariam muito que eu morresse (Olá pessoal! Eu também vos guardo no meu coração. Beijinhos...), mas não deve ser desta. Just in case, o LA-C no Facebook disse-me para meter um post na DdD se eu fosse morrer. (Como eu meto quase todos os dias, isso é mais do que garantido.) 

Aproveitei e tirei umas fotos da tempestade. É tão linda, mas vem aí mais...








Sai mais um observatório

A Ministra da Justiça quer criar mais um observatório, desta vez para a "Justiça Económica" -- não faço ideia o que isso seja -- porque 73% das insolvências em Portugal são de particulares. O governo deve criar condições para se observar as pessoas a falhar, mas Deus, ou Alá, dado que agora financiamos mesquitas, nos livre de se criar condições para as pessoas não falharem, tipo políticas de crescimento e emprego e retórica que promova a confiança dos agentes na economia.
Continue-se a ver o mundo de pés para o ar, pois todos os observatórios criados no passado ajudaram imenso a que o país crescesse e as pessoas conseguissem melhorar a sua vida. Bem, os "observadores" conseguiram melhorar a sua vida...

História gótica



70. Se, numa noite de inverno, um viajante. Se, numa noite de inverno, um viajante encontrasse quatro crianças loiras sincronizadas, saberia que tinha chegado ao seu destino. Não porque as encontrasse numa noite de inverno. Há muitas noites de inverno, por exemplo, em Zselyk quase todas as noites são noites de inverno, e se o viajante chegasse ao seu destino numa noite de inverno sem mais, então não viajaria para muito longe, porque não é só em Zselyk que há noites de inverno, elas estão por todo o lado. Não seria sequer merecedor do nome, o viajante. Teríamos que reescrever a frase. Se, numa noite de inverno, um pensionista. Se, numa noite de inverno, alguém que sempre dependeu da bondade de estranhos. Se, numa noite de inverno, uma astronauta. Zselyk não durará até à noite em que um viajante chegará à lua, não saberá se é uma noite de inverno ou um dia de outono. Não saberá qual a melhor estação para enviar alguma coisa para o espaço. Ainda que saiba muito sobre viajantes, muitos têm chegado a Zselyk, vários deles em noites de inverno, quase todos para encontrar o seu destino. Zselyk sabe também que não há nada de floreado no destino, que o destino não é um clímax. É só o fim. Por isso, quando se diz que, numa noite de inverno, um viajante chega ao seu destino, o que se quer quer dizer é que, numa noite de inverno, um viajante chega ao seu fim. E se chegar ao destino não tem necessariamente a ver com noites de inverno, são tantos os fins todos os dias e todas as noites e as noites de inverno não são todos os dias e todas as noites, tem a ver com encontrar quatro crianças loiras sincronizadas. Sempre que, numa noite de inverno, um viajante encontrar ruas molhadas e candeeiros a gás, ou camiões do lixo, ou prostitutos trémulos, não terá chegado ao seu fim, ser-lhe-á dado a escolher se fica e acende um cigarro sob a luz do candeeiro, ou se parte numa direcção de onde não tenha vindo o camião do lixo, ou se oferece um café ao prostituto, este deve ter muitas histórias e um café quente demora tempo a ser bebido, enquanto é, venham histórias tristes e histórias burlescas, histórias grotescas e histórias de cortar o coração, histórias cínicas e histórias de acender velas às escondidas nas igrejas. Seja o que for que decida, continua a ser um viajante porque não pára. E, escolhendo alguma coisa, não podemos dizer que se atrase. Para quem espera num ponto de chegada que um viajante chegue, cada escolha é um atraso. Assim terá sido para Penélope, que nunca dependeu da bondade de estranhos. Assim não terá sido para Ulisses, uma viagem não é o caminho mais curto entre dois pontos, a recta entre um ponto a e um ponto b.

FAQ U!

O Portal das Finanças está intragável! Ontem à noite, tentei submeter o IRS. Não sei em que vortex de incompetência entrei, nem que declaração submeti, mas aquilo não era a sumbissão do IRS. Navegar entre FAQs e Modelos (de quem foi a ideia de meter uma lista de modelos sem qualquer descrição num dos sítios onde fui parar?) foi uma chatice e cheguei ao fim e fiquei com a sensação de que fiz qualquer coisa mal. Tentei fazer outra vez e não deu.

Piñatas de Donald Trump

Descobri hoje, ao visitar a minha vizinha, que se pode comprar piñatas de Donald Trump entre Austin e Houston. Alguém em Austin teve a ideia de as começar a vender. E parece que elas ainda estão a ser vendidas que nem "hot cakes". Custam entre $20 e $40.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Hitler também era um keynesiano

Parece que o jornalista/ficcionista José Rodrigues dos Santos andou por aí a dizer que o” fascismo é um movimento de origem marxista”. Para comprovar o absurdo da coisa, Paulo Pena fez no "Público" " uma “prova dos factos”. O jornalista invoca o historiador Tony Judt: podemos falar de marxistas começando com conceitos; o fascismo não tinha conceitos, mas sim atitudes. Pena não nega algumas coincidências que podem gerar confusão. Relembra que Mussolini foi militante do partido socialista italiano e editor do jornal marxista Avanti! até ser expulso e fundar em 1919 o embrião do partido fascista. Não referiu, mas também podia ter referido, por exemplo, que NAZI é uma abreviatura de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Mas deixemos estas coincidências. Demos por adquirido que os dois movimentos, apesar das vidas paralelas e das sobreposições, são de facto distintos.
Na verdade, o que me chamou mais a atenção no texto de Paulo Pena foi o seu penúltimo parágrafo, em que cita Hitler para mostrar uma “derradeira diferença” entre os dois movimentos: “O New Deal deste homem foi o maior erro jamais cometido por alguém... Num país europeu a carreira deste homem teria terminado num tribunal por desperdiçar o tesouro público, e dificilmente evitaria uma pena por gestão criminosa e incompetente.", afirmou o ditador nazi.
Não bate a bota com a perdigota. Primeiro, o que é que o Roosevelt e o new deal tinham a ver com o marxismo? Segundo, o new deal era, isso sim, keynesianismo, apesar de Keynes ter publicado a sua Teoria Geral do Emprego posteriormente, em 1936. Terceiro, o discurso de Hitler não é coerente com a sua política efectiva, porque também ele foi um keynesiano avant la lettre. Em 1933, no tempo que John Maynard Keynes ainda não tinha realmente afinado a sua teoria do deficit spending, Hitler compreendeu que, para combater a depressão, uma das funções do Estado é a de consumir para estimular a procura. O desemprego baixou drasticamente na Alemanha antes ainda das encomendas excepcionais à indústria de armamento, que só começaram em 1935. Hitler intuiu (não sabia nada sobre leis económicas) que a economia é tributária da confiança. Enfim, Hitler, junto com Roosevelt, foram dois keynesianos com sucesso.
Numa palavra, Paulo Pena arranjou um péssimo exemplo para ilustrar as diferenças entre marxismo e fascismo.
Leio este relambório de erros, que enfraquecem uma posição de principio com que concordo -- onde há escola pública o Estado não deve financiar ou continuar a financiar escolas privadas --, e é inevitável pensar como as precipitações podem arruinar boas ideias. Uma política destas nunca podia ter sido anunciada para poucos meses depois. Um anúncio para o ano lectivo de 2017/2018 tinha evitado a necessidade de fazer estes estudos à pressa. 

Adicionalmente, mesmo fazendo com um ano de antecedência, não havia necessidade de fazer tudo ao mesmo tempo. Deviam, simplesmente, começar com os casos mais escandalosos. Por exemplo, quase todos os contratos de associação na zona de Coimbra e mais alguns do grupo GPS. Isto já teria permitido dar passos importantes, com a grande vantagem de ser praticamente impossível alguém defender estes casos.

Ensino público

As escolas de Coimbra assinaram um documento em defesa do ensino público. Gostaria de dizer que andei sempre no ensino público em Coimbra; no entanto, tive explicadora de matemática durante alguns anos. Aqui está a lista de escolas que frequentei depois de completar a escola primária:

  • Escola Preparatória de Silva Gaio
  • Escola Secundária de D. Duarte (7-9)
  • Escola Secundária de Avelar Brotero (10, 11)
  • Escola Secundária de Jaime Cortesão (12)
A educação que recebi nestas escolas permitiu-me não só entrar para a Universidade de Coimbra, curso de Economia, à primeira tentativa, como ser admitida numa universidade americana. E depois os americanos ainda quiseram que eu fizesse um doutoramento e pagaram-me para estudar. A sério que foi ideia deles. Malucos...
Todas as minhas virtudes vêm da educação que recebi em Portugal; as minhas falhas são todas da minha responsabilidade porque sou um bocado preguiçosa, distraída, e lenta (peço desculpa de antemão).

A queda de um muro?

Muita gente achou de mau gosto o cartaz da JSD, no qual Mário Nogueira aparece com as vestes de Estaline, um dos santinhos adorados pelo PCP. Não discuto. A mim, causou-me mais espanto a reacção da Fenprof e de Mário Nogueira em particular. Não, não é por Mário Nogueira considerar a possibilidade de processar os jovens laranjinhas. Ou por no passado a Fenprof ter usado cartazes do mesmo género para gozar com ministros ou primeiros-ministros. Esqueçamos esses pormenores da liberdade de expressão, da coerência, etc. O meu espanto é outro. Desde quando Estaline passou a ser uma persona non grata para os comunistas portugueses? Deixaram de venerar o homem de aço? Se calhar António Costa tinha mesmo razão quando há uns tempos disse que o muro de Berlim estava (finalmente) a cair lá para os lados da Soeiro Pereira Gomes. Ou talvez, como sugere hoje Francisco Assis no "Público", Mário Nogueira se sujeite a um “processo disciplinar” instaurado pelo PCP e se transforme, involuntariamente, num “verdadeiro herói”.

Dirait-on



O meu coro já está a preparar a próxima maratona: um trabalho intenso com o Rundfunkchor Berlin, e um programa variado e exigente. A arte também se quer organizada, e muito: já nos deram uma folha com as peças que vamos cantar, e uma tabela de datas para fins-de-semana do coro, ensaios normais e ensaios com o Rundfunkchor. Quem se inscrever, compromete-se a faltar o menos possível aos ensaios normais e a não falhar nenhum dos outros.

Ainda tenho a missa do Schubert feita ear worm nos meus dias, ainda falta mais de uma semana para terminar o prazo de inscrições para o próximo projecto, mas uma colega do meu naipe já começou a ouvir as peças propostas e já nos avisou que há uma que a tocou de forma especial. Chama-se "dirait-on", e é a música de Morten Lauridsen para um dos poemas que Rainer Maria Rilke escreveu em francês. Como estamos na Alemanha, o entusiasmo espontâneo é muito organizado: enviou-nos o poema em francês e a tradução para alemão, e um filme no qual o compositor explica como criou a música.

Esta manhã estive a ouvi-la repetidamente: a tranquilidade e a simplicidade que se instalam em nós sem remissão.

Venha a próxima maratona! Quero corrê-la intensamente e devagar, passo a passo, compasso a compasso, inteiramente.


Les roses  

Abandon entouré d'abandon, 
tendresse touchant aux tendresses... 
C'est ton intérieur qui sans cesse 
se caresse, dirait-on; 

se caresse en soi-même, 
par son propre reflet éclairé. 
Ainsi tu inventes le thème 
du Narcisse exhaucé.




Confiança e falta dela

Hillary Clinton recebeu uma grande derrota: uma avaliação negativa da sua conduta no caso do servidor de emails que manteve enquanto Secretária de Estado dos EUA; ela não tinha autorização para usar um servidor de email privado. Ela diz que tinha recebido autorização para o usar, mas não há provas de que sequer pediu autorização e o Inspector Geral do Departamento de Estado diz que, se ela tivesse pedido, esta teria sido negada. Outros Secretários de Estado, como Colin Powell, já tinham usado email privado para efeitos oficiais, mas quando ela chegou a Secretária de Estado, tal prática já era desencorajada e proibida, logo ela não tem desculpa para o que fez.
Relativamente ao resto da campanha, se ouvirem ou lerem falar acerca das eleições presidenciais americanas, ficam com a impressão de que Hillary Clinton não é muito fidedigna. As pessoas acham que ela mente ou distorce os factos muito mais do que os outros candidatos. Todos os candidatos distorcem alguma coisa e ela, nesse aspecto, não é diferente. Mas a impressão que temos é que ela é muito pior. Quem faz a verificação dos factos não a toma como assim tão má relativamente aos outros.
Ainda não percebi se a impressão que se tem ao ouvir as pessoas falar de Hillary Clinton corresponde a esta eleição, à eleição contra Barack Obama, ou se se deve a outra coisa. Fica aqui o infográfico do Star Tribune, um jornal de Minneapolis/St. Paul, e podem ler o artigo que o acompanha na página de Internet:

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Actualização do Estudo do Ministério da Educação

No estudo do Ministério da Educação foram introduzidas as seguintes modificações, pelo menos:
  • a orientação das páginas foi mudada para "vertical" e o documento tem agora 107 páginas -- já se poupou papel a quem imprime estas coisas
  • a data do documento foi antecipada: era Maio de 2016 e agora é Março de 2016
  • o Colégio Liceal Santa Maria de Lamas já tem nome completo e está "analisado"

História de um contrato de associação de há 456 anos

“A Universidade de Évora foi a segunda universidade a ser fundada em Portugal. (…) Ainda que a ideia original de criação da segunda universidade do Reino, tenha pertencido a D. João III, coube ao Cardeal D. Henrique a sua concretização. Interessado nas questões de ensino, começou por fundar o Colégio do Espírito Santo, confiando-o à então recentemente fundada Companhia de Jesus. (…) Com a anuência do Papa Paulo IV, expressa na bula Cum a nobis de Abril de 1559, foi criada a nova Universidade, com direito a leccionar todas as matérias, excepto a Medicina, o Direito Civil e a parte contenciosa do Direito Canónico.”

“As principais matérias ensinadas eram Filosofia, Moral, Escritura, Teologia Especulativa, Retórica, Gramática e Humanidades, o que insere plenamente esta Universidade no quadro tradicional contra-reformista das instituições católicas europeias do ensino superior, grande parte das quais, aliás, controladas pelos jesuítas.
No reinado de D. Pedro II, viria a ser introduzido o ensino das Matemáticas, abrangendo matérias tão variadas, como a Geografia, a Física, ou a Arquitectura Militar.”

“O prestígio da Universidade de Évora durante os dois séculos da sua primeira fase de existência confundiu-se com o prestígio e o valor científico dos seus docentes. A ela estiveram ligados nomes relevantes da cultura portuguesa e espanhola, dos quais importa ressaltar, em primeira linha, Luis de Molina, Teólogo e moralista de criatividade e renome europeu. Em Évora, foi doutorado um outro luminar da cultura ibérica desse tempo, o jesuíta Francisco Suárez, depois professor na Universidade de Coimbra. Aqui ensinou durante algum tempo Pedro da Fonseca, considerado o mais importante filósofo português quinhentista, célebre pelo esforço de renovação neo-escolástica do pensamento aristotélico.”

“Quando a conjuntura política e cultural de meados do século XVIII se começou a revelar hostil aos jesuítas, não admira que a Universidade de Évora se tenha facilmente transformado um alvo da política reformadora e centralista de Pombal. Em 8 de Fevereiro de 1759 - duzentos anos após a fundação - a Universidade foi cercada por tropas de cavalaria, em consequência do decreto de expulsão e banimento dos jesuítas. Após largo tempo de reclusão debaixo de armas, os mestres acabaram por ser levados para Lisboa, onde muitos foram encarcerados no tristemente célebre Forte da Junqueira. Outros foram sumariamente deportados para os Estados Pontifícios.”

Fonte: http://www.uevora.pt/conhecer/a_universidade

Modernidade

"O Bloco de Esquerda (BE) apresentou um projecto de lei que facilita a mudança de sexo a partir dos 16 anos. A proposta só deverá ser agendada para discussão no Parlamento depois das férias, uma vez que as marcações já foram todas feitas até ao final da sessão legislativa.
O projecto de lei que reconhece o direito à identidade de género elimina muitos dos requisitos “abusivos e atentatórios da dignidade humana” que agora são exigidos para uma mudança de sexo, incluindo a obrigatoriedade de haver um relatório médico que atesta a condição mental de quem a requer. Esse processo “não deve ficar dependente de um terceiro elemento”, sustenta a deputada bloquista Sandra Cunha. “Tem de haver uma despatologização, estas pessoas não são doentes”, disse ao PÚBLICO."

Fonte: Público
Portugal terá a sociedade mais "moderna" de toda a civilização humana, se permitirmos que o Bloco de Esquerda dê largas à sua imaginação. Em causa está permitir que pessoas com 16 anos possam mudar de sexo e não sejam sujeitas a avaliações médicas, deve ser tudo por vontade própria.
A pessoas de 16 anos não permitimos que votem em eleições (mas o Bloco quer que se permita, só que mudar de sexo aos 16 tem prioridade a poder votar aos 16), nem que viajem sem autorização dos pais (a não ser que se tenham casado primeiro ou estejam emancipados), nem que comprem ou bebam álcool, nem casar-se sem autorização dos pais, mas queremos permitir uma operação para mudar de sexo com a maior das facilidades, uma coisa que é médica, que pode correr mal, que a pessoa deve estar ciente dos riscos que corre e confortável com os mesmos.
Eu preferia que não se fizesse tão cedo, mas não sou médica, logo se a comunidade médica achar que há casos que têm mérito para serem efectuados nesta idade, tudo bem. Mas fazer uma coisa destas sem parecer médico, à vontade do freguês?!? Isso é irresponsável. Até para meter aparelho nos dentes há parecer médico.

Coisas esdrúxulas 34

Num cão ganindo reconheceu Pitágoras, o da coxa dourada, a voz de um finado amigo. Não porque falasse com animais e plantas, ainda que o fizesse. Nem porque praticasse artes mediúnicas, ainda que filho de Apolo, dizem, fosse.  Verdadeiro como a Pítia, Pitágoras sabia não apenas quem era mas quem fora. Viveu várias vidas, foi várias pessoas, de todas se lembrava com minúcia. Lutou na guerra de Tróia antes de descobrir que tudo é número. Regateou nos mercados gregos antes de percorrer o Egipto. Ocupou-se como cortesã, e bela, antes de ouvir a música das esferas. Não lhe terá, pois, custado deixar morrer de fome o corpo, outra vida esperaria, outra identidade. Uma vida terrena ainda, não galáctica, com um nome, um rosto, um sexo e uma actividade, vólucres embora. Talvez um lobo, bicho antagónico. Ou uma fava, à mesa interdita. Bípede ou quadrúpede, animal ou vegetal, lembrar-se-á Pitágoras de ter sido Pitágoras e ser nesta hora em que se lembra outra coisa. Saberá que já não é Pitágoras, o da coxa dourada, e que o Pitágoras que foi é agora um teorema apócrifo.

Uma grande merda

Durante três anos, trabalhei num projecto cujo objectivo era minimizar o custo de transportar estrume de aves do noroeste do Arkansas para a parte leste, chamada o Delta do Arkansas, que fica ao longo do Rio Mississipi e onde há o cultivo intensivo de várias colheitas como o arroz, a soja, o algodão, algum milho, etc. O projecto servia para aliviar o impacto ambiental na zona onde se produziam aves e maximizar o benefício para as diferentes colheitas que se produziam na parte leste do estado. Lembrem-se que não há nada mais sexy do que salvar o ambiente e eu já fiz a minha parte!
O meu papel nisto tudo foi o de fazer a análise quantitativa: ver quantas toneladas de estrume iriam ser transportadas por que meio de transporte (camião ou combinação camião-barca fluvial), para onde, e em que forma (se era transportado solto ou embalado em plástico), pois os custos e benefícios de todas as opções eram diferentes e nós também queríamos saber quanto dinheiro isto iria poupar em adubos. Para fazer isto, escrevi um programa em GAMS que me dava a solução e os custos de cada rota. Aquilo demorou-me vários meses a implementar, pois era preciso procurar dados, pensar na forma do problema, nas restrições, e depois escrever o programa, fazer correcções, e resolver a coisa para encontrar a solução. Claro que não trabalhei sozinha.
Ao ler o estudo do Ministério da Educação acerca de como decidir colocar os alunos em escolas públicas ou privadas, não posso deixar de constatar que nos EUA se dispende mais esforço a pensar onde enviar merda -- sim, MERDA -- do que o esforço que em Portugal se dedica a decidir o destino de crianças. É uma grande merda...

O Word Doc de Tiago Brandão Rodrigues

O Artur Rodrigues disponibilizou no seu Facebook um link para o documento do Ministério da Educação que, supostamente, serve de suporte à decisão de quais contratos de associação terminar. O título do documento é "Análise da Rede de Estabelecimentos do Ensino Particular e Cooperativo com contrato de associação" e data de Maio de 2016.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Diga "Bom dia" com impostos

Hoje de manhã acordei às 6h15m e tinha uma notificação do Jornal de Negócios no meu telefone à minha espera. Olha, podem aumentar o IMI. Eu até sou a favor de se aumentar o IMI, desde que se alivie os impostos que afectam as pessoas de rendimentos mais baixos ou os impostos que afectam os incentivos das empresas para contratar mais pessoas. Mas não vai haver contrapartidas desse tipo, vai-se aumentar o IMI e eu pergunto-me: o que é que nós ganhamos em troca deste aumento de impostos? Expliquem-me porque eu não entendo.

Mas deixo-vos uma dica: se forem à Câmara barafustar, eles baixam porque isto em Portugal é tudo à la carte. Nos EUA também dá para baixar o imposto de propriedade: o dono paga e manda fazer uma avaliação da propriedade e entrega à apreciação da cidade (se comprou a casa há pouco tempo, pode usar o valor da compra). Barafustar não é suficiente.

O benefício da dúvida

A imagem abaixo chegou-me à caixa de correio, enviada por alguém que sabe que eu nutro um especial apreço por pontuação. Parece que se espalhou pelas redes sociais e tem sido apontada como evidência dos problemas do sistema educativo. Eu gosto de dar o benefício da dúvida e, por isso, admito que aquele "filho" seja um vocativo e aquele "meu" se esteja a referir a interesse, património ou afim. A não ser isto, espero que os filhos destes pais ajudem a causa amarela e corrijam aquela faixa.

Mercado desavergonhado...

A Bloomberg relata o caso de um hedge fund que tinha feito um short* no Novo Banco, mas os clientes do hedge fund, fartos de perder dinheiro com o sector energético americano, não esperaram tempo suficiente e a posição teve de ser desfeita antes do tempo, 30 de Dezembro de 2015. O custo de oportunidade dessa posição foi $40 milhões. Um outro fulano teve o mesmo problema e perdeu a oportunidade de ganhar $28 milhões. O mercado é um chato, não tem pena de ninguém. O governo português a criar tão boas oportunidades para alguns especuladores,** que até tinham razão, e o mercado vai por trás e, pimba, dá o dinheiro a outros...

* Um short é uma posição financeira motivada pela expectativa de que o preço do activo vai cair, logo vende-se o activo ao preço actual, na expectativa de o poder comprar mais tarde a um preço mais barato. Chama-se short porque o activo é vendido antes de o comprarmos, logo falta-nos o activo -- estamos "curtos", short --, até liquidarmos a posição.
** O mercado especulativo é um "zero-sum game": as perdas de uns são anuladas pelos ganhos de outros. O valor deste mercado é o de fornecer informação e permitir a gestão de risco, não cria valor líquido em termos reais.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Escolas "caras" em Houston II

No primeiro post sobre este tópico falei-vos das escolas localizadas numa das zonas da cidade mais pobre da cidade. Hoje gostaria de vos falar da escola mais cara de Houston, a St. John's School, que é uma escola privada, com fins não-lucrativos, localizada no centro da cidade. Esta escola é também reconhecida a nível nacional, e não apenas em Houston, pelos seus altos critérios de excelência.

Se consultarem a página web da escola, saberão que o processo de selecção de novos alunos inclui, entre outros, critérios relacionados com notas, actividades extra-curriculares, cartas de referência, especialmente o serviço comunitário do aluno, entrevista, hereditariedade, maturidade da criança. A descrição do processo é a seguinte:

É estranho ou talvez não

É estranho ver “a geração mais qualificada de sempre”, como alguns não se cansam de dizer, a ajoelhar e a rastejar sob as ordens dos “doutores” nas praxes académicas. Há aqui alguma coisa que falhou. Que não bate certo com a narrativa oficial. Ou talvez não, se considerarmos que qualificação não é o mesmo que educação. O que é afinal uma pessoa educada? Convinha se calhar começar por esclarecer este ponto antes de avançarmos com qualquer discussão sobre a educação em Portugal. Ou talvez o ministério da educação devesse antes chamar-se ministério da instrução ou da qualificação, para as coisas ficarem mais claras.

A inveja

Andam por aí a discutir o acesso às escolas privadas e públicas usando critérios de inveja. Ele há coisas... Mas por falar em inveja, da próxima vez que sentirem inveja de eu estar no Texas, pensem bem nos sacrifícios que isso implica porque a escolha é entre as seguintes opções:

  1. bom salário e mau mar
  2. mau salário e bom mar

Agora não se esqueçam de pedir um subsídio ao Mário Centeno para colorir de azul o Golfo do México em Galveston e poderem vir para Houston trabalhar porque toda a gente merece ter essa "escolha".

O meu mar, no Sábado, em Galveston:

Galveston, TX, at dusk on Saturday. Don't mock my ocean, it's the only thing I've got right now...

A video posted by Rita (@stellathepug) on

O mar em Portugal, cortesia do Miguel Portela:

Por acaso está bem feio

E falta-lhe uma vírgula!

Referendo - terceiro take

Há uns tempos atrás aleguei que o modo como os políticos abordassem a profunda desigualdade regional no Reino Unido – e, em particular, a desigualdade entre Londres e o resto de Inglaterra - seria determinante para a evolução no sentido de voto no referendo, e, claro, para o resultado final. 

A imagem abaixo vale mais do que mil palavras. Ela mostra o produto per capita das capitais de vários países (a bola verde); o produto per capita do país, como um tudo (a barra vertical verde); e o produto per capita das 10 regiões mais pobres do país (as 10 bolinhas azuis). 


Como região, Londres é muito mais rica per capita do que o Luxemburgo (que é o segundo país mais rico do mundo, a seguir ao Qatar). Por outro lado, as regiões mais pobres do Reino Unido são praticamente tão pobres como as regiões mais pobres do nosso Portugal. Sim. O Reino Unido também tem Trás-os-Montes e um Rabo de Peixe, mas não tem Lisboa. Em vez dela, tem um Mónaco em esteróides, com 9 milhões de habitantes e uma riqueza que não tem qualquer paralelo na Europa. 

É relativamente evidente que, do ponto de vista puramente económico, não há qualquer dúvida sobre que lado tem razão no debate: a saída do RU da UE é estritamente pior para a Economia de todo o país, e, diria mesmo, de todas as suas regiões individualmente consideradas. O Governo – sim, o Governo, cujo logotipo aparece numa brochura de luxo que foi enviada a toda a população, a fazer campanha pela permanência - tem apresentado uma narrativa imbatível: o cenário económico mais otimista possível para a saída, que é aquele que está a ser defendido sem grande convicção pelos seus apoiantes, é exatamente igual àquilo que já existe. Na melhor das hipóteses, um Governo pós-saída conseguiria assinar um tratado económico de comércio livre com os outros países europeus, continuando a ter o direito de não participar de nenhuma das restantes políticas da União, e a contribuir com transferências extraordinariamente baixas atendendo ao seu nível de riqueza relativo. E é evidente que esse Governo nunca conseguiria tal feito, porque, em caso de saída, a União nunca permitiria ao Reino Unido manter as mesmas vantagens que usufruiria com a permanência – ou não servia para nada ser Membro. 

Mas o debate não é só económico. O debate é político, e o ressentimento com que os ingleses, não londrinos, observam a excrecência económica que é Londres não pode ser desvalorizado – e em particular como observam todas as manifestações de uma economia centrada num coração hiperdimensionado e que se desenvolveu para o servir, desde a imigração ao poder da banca de investimento, passando por uma política monetária que favorece uma libra cara e uma política industrial que, basicamente, consiste em desindustrializar agressivamente em favor dos serviços. Muitas destas manifestações confundem-se com a pertença à União, cuja liberdade de movimento de pessoas e capitais serviu, sobretudo, Londres. 

E em que pé está o ressentimento dos ingleses não londrinos? Há uma pista que me parece relevante. A principal figura que faz campanha pela saída não vem desse país real - e não o representa. Ao contrário, andou anos a servir os interesses de Londres. É um dos grandes paradoxos que só se explica pela enorme ambição política de Boris Jonhnson, que apostou tudo ao aperceber-se que o lado da saída estava despovoado e que ele o podia ocupar, mesmo se não acreditasse em nada daquilo. Ter sido Boris a chegar-se à frente, e não outra figura qualquer que pudesse corporizar a Inglaterra que não é Londres, pode estar a mostrar melhor do que qualquer argumento do Governo o quão frágeis são os alicerces de uma eventual saída, e como o seu risco, talvez maior que o ressentimento, pode apenas ser integralmente assumido por quem não tenha qualquer genuíno interesse ou preocupação com o eleitorado que quer representar. 

Num próximo post falarei da minha viagem recente a não Londres - à Cornualha. 

Primeiro take
Segundo take

"Esperando o Sucesso"

“Esperando o Sucesso” é o título da obra mais conhecida de Henrique Pousão, um pintor do final do século XIX, nascido no Alentejo, que estudou no Porto e depois em Paris. Mais tarde, parte para Itália devido a problemas de saúde, acabando por falecer em Vila Viçosa, com apenas 25 anos, em 1884. Conheci este quadro no livro de Dalila Rodrigues, “Obras-Primas da Arte Portuguesa - Pintura”
Na passada quinta-feira, cruzei-me com a pintura quando me dirigia para o auditório do Museu Nacional Soares dos Reis, para assistir à conferência de Alfredo Marvão Pereira "Investimentos em Infraestruturas em Portugal"
Pensando bem, “Esperando o Sucesso” também seria uma boa alternativa para o título da conferência.



domingo, 22 de maio de 2016

História gótica


69. Era tal a desordem que reinava, a desordem, como se sabe, reina, e também a confusão ou a harmonia, afinal são muitos os estados que reinam, no interior da mala que o homenzinho redondo abriu, e que ocupou todo o balcão da farmácia, que Dragomir, ainda mal refeito do anterior assalto à sua tranquilidade, se sentiu zonzo quase até ao desmaio. Que alguém pudesse apresentar-se como vendedor, e vendedor de objectos utilíssimos e futuríssimos, sem que se conseguisse perceber quantos e quais eram esses objectos, constituía para o farmacêutico algo de inexplicável. E como, ao abrir a mala, Pécuvard fizera cair ao chão a pilha de caixas de pastilhas com sabor a violetas que Dragomir tentava em vão vender às aldeãs desde que chegara, este sentia no peito confusão e desordem quase iguais àquelas que, como se disse, reinavam no enorme implemento de transporte de objectos pequenos do homenzinho redondo. Pécuvard não parecia preocupado com o destino do conteúdo da mala, talvez irrevogavelmente destruído. Pelo menos, não tinha desaparecido da sua boca o sorriso e do seu bigode a compostura. Pelo que não é descabido presumir que a desordem em causa fosse já bem conhecida de Pécuvard, familiar até, e não resultado de um infeliz acidente. A mala continha uma profusão de molas e manivelas, de tal modo misturadas que mais parecia ser o homenzinho redondo vendedor de peças avulsas do que dos objectos completos e funcionais que prometera. Mas como até os desarrumados têm a sua ordem, Pécuvard começou a tirar da mala essas molas, manivelas, porcas, parafusos, pedaços de metal e pedaços de madeira e, com tanta rapidez quanto aquela com que jorravam dos seus lábios enxurradas de palavras, montou máquinas enigmáticas e tentadoras. Sim, Pécuvard, aventemos, era um vendedor de sucesso menos pelo que dizia do que pela prestidigitação que realizava e pela atracção que a humanidade sempre teve pelas coisas mecânicas. A avalanche de palavras era, percebia-se agora, uma armadilha para conduzir o prospectivo cliente a um estado tal de irritação que era com surpresa que constatava que os conteúdos da mala eram supremamente interessantes. E o contraste entre a irritação e o interesse causava aquela grande experiência de imprevisibilidade que dá à humanidade extrema satisfação. Eram, então, duas as fontes de prazer da estratégia vencedora de Pécuvard. Era inesperada a curiosidade seguindo-se à antipatia, e eram irresistíveis as máquinas. Quem conhece a humanidade, e Pécuvard conhecia-a bem, sabe atraí-la, tê-la, como, mais uma vez, se diz, na mão. Por mais que a ilustração da espécie avance, nunca ela perde o fascínio por aquilo que não compreende e que logo considera da ordem do feitiço. Nunca ela perde a capacidade de ficar com o proverbial queixo caído no proverbial chão, de ficar com a boca proverbial proverbialmente aberta. E era por saber tudo isto que Pécuvard não receava que fosse descoberta a natureza do seu verdadeiro negócio.

Filosofia barata

"Os homens são como as ondas do mar: estão sempre a vir; alguns até estão sempre a vir-se..."

Foi o que me veio à cabeça ao conversar com uma amiga minha. A minha cabeça é um sítio muito divertido.

O futuro do desejo

Depois da Amazon criar o mercado em segunda mão de livros e discos, uma das primeiras buscas que fiz foi do primeiro álbum da Jill Jones. Havia em segunda mão e custava mais de $300. Agora encontra-se muito mais barato, $68 por vinil e $105 por CD (a cassete é mais barata). Mas quem é forreta pode ouvir temas como "Mia Bocca" no YouTube e deliciar-se com toda a carga sexual do vídeo realizado por Jean-Baptiste Mondino (1987), onde rapazes espreitam a Jill enquanto ela dança. É aceitável para meninos olharem para mulheres assim, até fazem filmes sobre isso, como o "Malena" com a Mónica Bellucci.

Ao ver este vídeo, recordo-me de outro igualmente sexy, mais recente, e com um visual parecido: o "Love Will Never Do (Without You)" da Janet Jackson, da autoria de Herb Ritts, e que conta com o corpo delicioso objectificado do Antonio Sabato, Jr., entre outros. Aqui todos os homens são adultos e não aparecem em transe a olhar cheios de desejo para uma mulher. Lentamente, os homens estão a ser promovidos a objectos desejáveis. Nós, mulheres, devemos muito aos homossexuais e ao seu desejo de ver homens nus, pois não fica "muito bem" para mulheres desejarem olhar para homens nus.

Estou curiosa acerca dos próximos desenvolvimentos da civilização em termos de desejo, até porque em "Mia Bocca", Jill Jones canta "I have only had one lover since I was 12 years old".

Adenda: Para aceitar fazer um vídeo com a Janet, o Herb mandou-a perder peso...

Call me...

A Fernanda Câncio escreveu uma peça acerca da "legalização do trabalho sexual". Eu sou a favor e espero que a sua legalização regulamentação contribua para uma maior transparência e melhoria das condições de vida das pessoas que se prostituem. E as condições de vida são muito más para muita gente. Em 2013, quando estive no Porto, vi uma exposição de fotografia de Rúben Garcia sobre sobre prostituição em Almería, Espanha, no Centro Português de Fotografia. Dizer que as imagens são chocantes é insuficiente para descrever o que senti. Aquilo passa-se em Espanha, um país da União Europeia, um clube de países ricos.

A questão da escolha é muito importante porque, muitas vezes, quando se entra numa vida assim, é muito difícil sair. Mesmo em países como a Alemanha, onde a prostituição é legal regulamentada, a fiscalização é inadequada e há bordeis onde as mulheres são praticamente escravas: vivem lá, dão o seu dinheiro ao bordel para pagar a renda e a diária, e são obrigadas a receber um número grande de clientes por dia. Não são elas que escolhem os clientes, nem têm grande escolha em outros aspectos da vida. Muitas vêm de outros países, não falam alemão, e não têm oportunidades em outros mercados de trabalho. Gostaria que legalizar-se regulamentar-se a prostituição em Portugal não levasse a situações deste tipo. Um dos objectivos da legalização regulamentação tem de ser mesmo melhorar as condições de vida destas pessoas e não apenas criar mais uma fonte de impostos.

Há outro aspecto da escolha que também gostaria de abordar. A maior parte dos bordéis são para servir os desejos dos homens, o que acho mal. Acho que o mercado também deve oferecer bordeis para servir os desejos das mulheres. E gostaria que os libertários de Portugal, que tão valentemente se expressaram em favor de o estado dar às famílias a possibilidade de escolher entre o ensino público e privado, agora adoptem esta causa: caros libertários, apoiem a legalização regulamentação da prostituição e preocupem-se com as mulheres terem a escolha de poder frequentar bordeis como clientes e não apenas como prestadoras de serviços. Já sabem que podem contar com o meu apoio, basta chamarem-me!

P.S. Muito obrigada ao Miguel Madeira pela sugestão de usar "regulamentar" em vez de "legalizar" e do feedback do Zuricher acerca de a prostituição não ser ilegal e de existirem algumas ofertas de serviços para mulheres. Isto da cooperação é muito giro, o Mises ficaria muito orgulhoso do nosso blogue. Até parecemos libertários a sério...

Voam, mas baixinho

Num futuro não muito distante, uma professora de uma escola pública pede aos alunos do 1.º ano para darem exemplos de animais que voam. "As vacas", responde o Joãozinho. Todos se riem, incluindo a professora. O Joãozinho não gosta da reacção e insiste com um ar muito sério: o meu pai pertence ao “Comissariado” e diz que as vacas também podem voar.
“Quer dizer, voar... voam, mas baixinho”, afirma a professora.

Pensamento do dia

O problema do keynesianismo é que agora, com o aumento da esperança média de vida, no longo prazo já não estamos todos mortos.

sábado, 21 de maio de 2016

Um homem vil

Em notícia no Jornal de Notícias, o nosso ilustre Primeiro Ministro António Costa diz que nada mudou na celebração de contratos de associação: eram uma excepção à regra e continuarão a sê-lo. Os colégios é que perceberam mal, pensavam que contratos a prazo eram renováveis indefinidamente. Se assim fosse, não haveria prazo, mas o português é uma língua difícil de compreender.

O que não é difícil de compreender é que António Costa acabou de admitir que o governo nos forneceu uma notícia que não era notícia. Pois é, ilustres leitores, o nosso Primeiro Ministro usou a educação das crianças portuguesas para manipular a opinião pública. Uma pessoa que faz isso é para mim um homem vil, sem escrúpulos, merecedor do meu maior desprezo.

Vamos lá a isto, que a Bayer faz maravilhas

No dia 18 de Maio de 2004, assinou-se entre Portugal e a Santa Sé uma Concordata, cujo artigo 13.º "confere efeitos civis ao casamento religioso, não sendo necessária a celebração prévia de um casamento civil." Eu não sei como é convosco, mas no meu círculo de amigos e familiares, os casamentos têm ocorrido todos na igreja. Não é que eu viva rodeada de pessoas particularmente religiosas. Não. A maioria dos nubentes nem sabia dizer o Pai Nosso todo (bom a Igreja também não facilita a coisa, que é uma oração sem rima nenhuma e verbos conjugados na segunda pessoa do plural). E alguns não eram baptizados, foram tratar do assunto como condição prévia para o casamento religioso. É mais uma coisa estética. As fotografias com um altar de talha dourada em pano de fundo ficam muito melhor. E uma entrada ao som do Avé Maria parece um bocadinho desajustada fora de um ambiente eclesiático. Portanto, lá se casam na igreja e pela Igreja, compromentendo-se com uma série de coisas que não fazem a mínima intenção de cumprir.

Mas adiante. Motivos à parte, as futuras famílias manifestam uma clara preferência pelo casamento religioso. Por isso, eu proponho, por uma questão de eficiência, que se poupe no conservador e se passe para o padre as funções matrimoniais, deixando ao primeiro só o registo de nascimentos, óbitos e divórcios.

da missa a metade

Amanhã vou cantar um missa de Schubert na Filarmonia. O tal concerto a mil vozes, a maior parte delas de coros amadores como o meu.

Erros meus, má fortuna, viagens, outros afazeres: são quase cinco da tarde, e ainda só sei da missa a metade.

Agora vou estudar o resto, para tentar reduzir ao mínimo o post que talvez venha a escrever mais tarde sobre o erro de estudar apenas para dez quando a escala vai até infinito, sobre não saber aproveitar convenientemente as oportunidades que nos dão, etc.


Deixem-me tomar uma Aspirina

Uma notícia desta semana referia que o Estado retirará a comparticipação a 115 medicamentos, caso o seu preço não baixe. Esta lista inclui análgésicos, antidepressivos, medicamentos para doenças cardiovasculares e antibióticos. O critério não foi terapêutico. O facto de serem aqueles 115 e não outros advém da existência no mercado de alternativas mais baratas. Vou repetir: existe um outro medicamento com um preço mais baixo, logo, ou o laboratório baixa o preço do medicamento, ou o Estado deixa de o comparticipar. É simples. E parece justo.

Curiosamente, não vejo aí os arautos da liberdade de escolha a barafustar com a medida. Bom, eu sei que uma pessoa não pode estar permanentemente a travar batalhas. Há que adoptar umas causas em detrimento de outras, mesmo que todas nos sejam muito caras. É uma questão de stock de fluoxetina - Prozac, para quem preferir. No entanto, tenho a leve suspeita de que este sossego relativamente aos pobres 115 medicamentos que poderão deixar de ser comparticipados (que tal pôr-lhes uns post-it's nas farmácias?!) é mais explicado por esta ser simplesmente a continuação da política de medicamento que Paulo Macedo colocou vigorosamente em prática.

E agora esta sofredora de dores de cabeça (sim, tenho-as mesmo, não é desculpa) vai tomar uma Aspirina, que só de me lembrar da desonestidade intelectual de um certo debate fiquei com uma enxaqueca e dar no ácido acetilsalicílico não é para mim.

[Adenda: na versão inicial deste post, eu colocava a hipótese de a alternativa aos medicamentos em apreço se tratar de um genérico. Erro meu que não li bem o comunicado do Infarmed, onde é referido que são igualmente de marca.]

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Primeira e última

"As pessoas dão demasiada importância à primeira vez. E a última vez? Ninguém pergunta pela última vez. A última. A última de todas. A última das últimas. A última depois da qual não há mais nenhuma."

Pedro Mexia

~ ~ ~
"Certain people always say we should go back to nature. I notice they never say we should go forward to nature."

Mark Rothko

Num dos primeiros dias de aulas da minha escola primária, houve uma actividade em que tínhamos de pintar com tintas. Nunca tinha usado tintas, mas lembro-me de estar a ver os outros meninos pintar. No início apenas vi porque era necessário que alguém me chamasse para pintar, senão eu não faria nada. Sendo eu uma criança extremamente introvertida -- muito sossegada, pasmada, até --, precisava que me dessem instruções específicas e, principalmente, autorização para fazer o que quer que fosse. Finalmente, a autorização veio quando a minha professora me mandou pintar.

Elegia ao pensamento independente

Ultimamente ando obcecado pelo Joe Rogan. O Joe Rogan é o comentador/entrevistador oficial da UFC (Ultimate Fighting Championship, "Vale tudo" em português). O Joe também faz stand-up, é obcecado por bilhar, caça (com arco e flecha), dietas e um milhão de outras coisas. E o Joe Rogan tem um podcast que é uma coisa do outro mundo (em parte porque de vez em quando fuma umas cenas engraçadas antes do podcast começar). Mas o PowerfulJRE não é um podcast como os outros. Em primeiro lugar, porque nunca dura menos de duas horas.  E depois porque em 90% dos casos as duas horas parecem curtas. O que torna o podcast tão interessante é não só a habilidade do apresentador de discutir todo e qualquer tema (seja ele as semelhanças entre o Bernie Sanders e o Donald Trump, a incapacidade de levar a sério homens vítimas de assédio sexual ou o quão ridículo é algumas pessoas usarem cachecóis e t-shirts ao mesmo tempo), mas principalmente a sua capacidade de manter a mente aberta a qualquer ideia, sugestão ou contra argumento.

Há umas semanas Joe Rogan queixava-se da inabilidade das pessoas hoje em dia terem opiniões moderadas. Hoje em dia, segundo ele, e numa opinião que eu subscrevo na íntegra, nada é bom, jeitoso ou aceitável. Hoje em dia, tudo é terrível ou incrível. Hoje em dia ou se acha o António Costa o novo S. Sebastião, ou o Estaline português. Ou se gosta de carne como se fosse uma religião, ou se acha que comer carne é um crime digno da pena capital.

E em nenhuma outra esfera das nossas vidas esta tendência para o extremismo de opiniões se faz sentir tanto como na Internet (até mais que na política portuguesa José Carlos!). Há dias a ler uns posts da Rita reparei que a maioria dos comentários se enquadram numa das seguintes categorias:

  1. Ca burra, não percebes nada disto sua comuna/fascista!
  2. Muito bem Rita, toda a gente devia ser obrigada a ler tudo o que você escreve!
(Note-se que a predominância da primeira alternativa se deve a uma selection bias, já que pessoas que retiram prazer em implicar/discordar /insultar outras pessoas têm uma maior disposição para comentar online.)

Ora por muito que eu goste da Rita e do que ela escreve, a verdade é que ela, como todas as outras pessoas, na maioria das vezes tem alguma razão. Sendo uma pessoa com um nível de inteligência a cima de qualquer suspeita raramente está completamente enganada mas, não sendo o Cavaco Silva, raramente está 100% certa também.

Mas se lerem os comentários ao que a Rita escreve (ou qualquer outra pessoa, a Rita é só uma ilustração particularmente útil por ter opiniões fortes e bem fundamentadas, o que chateia muita gente), ficarão convencidas que a Rita ou é uma besta, ou a messias. (Qual é o feminino de messias?)

Mas a verdade, como a virtude, fica algures no meio. E isto, numa altura em que as pessoas estão cada vez mais predispostas a tomar lugar num dos extremos da escala de concordância, sem se darem ao trabalho de pensar pela sua própria cabeça (a la Joe Rogan), é muito difícil de engolir. Principalmente quando se trata de pessoas como a Rita ou o LA-C: pessoas cujas opiniões não se enquadram num  paradigma político ou cultural em particular. Que às vezes concordam com a direita e outras com a esquerda. Que umas vezes fazem posts que deviam fazer parte do programa nacional de leitura e outras escrevem sobre coisas que não interessam nem ao menino Jesus. 
Pessoas que regularmente me obrigam a puxar pela humildade de admitir que nunca pensei, li ou me informei suficientemente sobre o assunto em questão para ter uma opinião sobre o mesmo, seja ela contra ou a favor. 

É a esta capacidade de admitir que, muitas vezes, temos de que aprender muito mais até termos a capacidade de formar uma opinião digna desse título que este elogio fúnebre se dedica. Este post é escrito em memória da falecida expressão: "Não sei".

E agora que esta cerimónia fúnebre chega ao fim, chega de novo a hora de escolhermos um lado da barricada. Porque por muito que não façamos a mínima ideia do que estamos falar, o importante é ter uma opinião. Porque nas trincheiras a fundamentação vale menos que uma flor em forma de canhão.